segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Overdose

Título: Bleed
Fotógrafo: Olena Chernenko
Colecção: Vetta

A cabeça não tinha paragem
parecia um servidor a processar
os vencimentos da função pública
em véspera de pagamento,
tamanha foi a dose de palavras
que me injetaste na noite passada.
Voltas e mais voltas dei à cama,
não houve quem,
nem o que me desse a vinda do João-pestana.
O silêncio e a solidão
agudizaram o meu pavor à escuridão,
gritei, tentei fugir,
mas vi-me à mercê do colchão bicho-papão.
O coração bombeou a todo o vapor
uma respiração descontrolada,
e o ar perdeu o caminho da porta de entrada.
Em auto combustão,
o corpo entrou em falência,
colapsou e tombou de joelhos ao chão
afogado em mil e uma declarações de amor.
Sentada no parapeito da janela,
ainda com a boca seca
da ressaca da madrugada,
velo o meu corpo estendido ao relento do tempo
enquanto espero a chegada da alvorada,
para então partir na corrente do sol nascente
ao som do chilrear da passarada.
Sabes meu querido, para continuar a viver
não tive outro remédio
senão matar o corpo que tu fizeste tremer.