domingo, 13 de outubro de 2013

Lágrimas de Cristal

Título: Seatears
Fotógrafo: Olena Chernenko
Colecção: Vetta

Não há nada, não houve nada, não haverá mais nada, e por muito que bata no cego, ele vai continuar de olho aberto a ver só o que quer ver. De olhos desfocados, alma tolhida, e ouvidos prenhos de nevoeiro não há o que lhe deixe entrar a melodia. A música do coração parou de tocar, gelou, caiu ao chão, pariu no céu um punhado de lágrimas de cristal, e quando chove não há mão que deite mão à mão do punhal. A alma está segura, aprisionada num barril de pólvora lacrado, mas o corpo, esse pobre coitado é o que mais sofre neste mar de sentimento, o querer que o fio do medo não deixa crescer, não deixa vingar e naturalmente não deixa condignamente morrer.
No porto sem-abrigo as ondas de tempestade em confronto rebentam no pontão, e neste marear, não há barco que aguente o trote entre dois gumes de vida bem afiados. Entre a parede e o abismo não há margem de manobra para a espada da vitória, no seu lugar ficará somente o gosto amargo da derrota inglória, e para todo o lado e qualquer lado que se vá, tudo dói, tudo fere, tudo mágoa, até o gesto mais simples como o de respirar.