domingo, 12 de janeiro de 2014

A Noiva























Título: Crying Bride Holding Lily
Fotógrafo: Peter Zelei
Colecção: Vetta

Excitação é a palavra exacta que descreve o estado de alma, no qual Maria se encontra em preparo para o grande dia da sua vida. Toda ela brilha de alegria, enquanto a costureira dá os últimos retoques no vestido pérola que a calça que nem uma luva.
A euforia é de tal forma desmedida que não se dá conta da tensão que se sente no ar, nem do ar pesado trajado no olhar da sua mãe. Tamanha é a distração que tão pouco toma ouvido nas badaladas do sino da igreja fora de hora e a manhã inteira.
Está quase a bater à porta a hora de conhecer ao vivo o seu futuro marido, o homem a quem está prometida desde o instante em que foi concebida. Dele só tem a imagem que construiu ao longo dos anos por conta das longas trocas de correspondência desenhadas à mão da fina pena em papel de seda, encorpada por uma fotografia amarelecida e queimada pelo sol, que à surdina lhe foi fornecida pela Dona Maria, a governanta da casa e da cozinha. Ela que o conhece bem diz ser um homem de trato complicado, carregado de rigor e austeridade, bem-apessoado e bem abastado também.
O grande momento entra em contagem decrescente, e, antes de sair em procissão nupcial em direcção à igreja, por uma última vez, mira ao espelho a sua condição de menina solteira. Fecha os olhos e em silêncio celebra uma pequena oração aos presentes, alheia.
Pronta, deita pé ao caminho. Nas mãos leva um ramo de lírios brancos e sobre os cachos rolos de cabelo solto, leva o véu e uma coroa de rosas de santa teresinha. Em passo lento, ao ritmo da melodia escolhida, segue a direito sobre o tapete vermelho até ao altar do contentamento.
Incrédula dá um grito exasperado quando os seus olhos se fixam no noivo que se encontra jazido ali mesmo à sua frente, portando um rolo manuscrito na mão esquerda, segundo o pai, o voto final para ela ler e assinar.

“Minha doce Maria, infelizmente, e por motivos alheios à minha vontade, neste fatídico dia, estou exclusivamente de corpo presente. Danos colaterais, minha querida, do pacto que o teu pai fez com o Diabo, ainda tu não eras nascida.
Não resistas, não tens como fugir ao compromisso firmado, quando foi de tua livre vontade a entrega da tua mão ao fado do meu laço.
E para que conste no documento lavrado, doravante tens a teu cargo a anilha que faz de ti minha rainha”. 

A cerimónia foi celebrada e o pacto a sangue selado, e desde esse dia nunca mais ninguém viu a Maria. Segundo reza a lenda, a campa do morto é velado todas as noites por um corvo que carrega na pata esquerda a anilha que fez da Maria, Rainha da Morte.