quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Maria do Deserto


Título: Female nude curled up in sand dune
Fotógrafo: Timothy Hearsum
Colecção: Photonica

Por quem és 
alma de Mulher, 
ave de rapina
concebida na pena 
da asa rasgada na ferida!
Por quem és 
coração de Menina,
de nome Maria
nomeada à doce mão
e fina pena da vida!
Quiçá rosto macerado,
de olhar distante
em triste baço,
de que resto, 
hoje só me resto
rasto de um ventre seco,
de qual vazio parido 
no rigor frio
do tempo deserto.

Tem dias que nada apetece, nada consola, nada preenche, e tudo aborrece. Hoje o meu dia foi assim, azedo, destemperado e vazio.


domingo, 18 de janeiro de 2015

Silhueta do medo

Francesca Woodman

Ele sabe que por detrás daquele olhar sereno, doce e meigo mora uma mente aberta de alma inquieta, cativa e borboleta. Ele sabe também que aquela silhueta de gazela, nudez frágil de seda pálida, macia e quase casta carrega no ventre a alma do mar. Mas de que lhe adianta ter à mão coração e sabedoria para desembrulhar o sopro da vida se o medo ainda lhe é um cão danado!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Maria (Des)nomeada

Francesca Woodman

Sou rosto corpo inteiro,
sou grão, sou areia,
sou filha
da lua-cheia.
Sou tempestade, e sou mar,
e sou grito por revelar.
E sou espelho e sou reflexo,
espectro
do vazio e do deserto.
E sou alma roubada,
pobre alma minha desassossegada,
flor daninha por quem sois 
de alma perdida.
Pena de asa negra desgarrada
de qual sorte fui parida
e a qual morte fui deixada,
só, triste e abandonada.
E sim, penso-te,
e sim, sinto-te,
e sim, respiro-te
mas sei que sem ti,
eu Maria, 
não me existo…