domingo, 9 de outubro de 2016

Era uma vez...

Imagem tirada daqui

Existem histórias de amor
que são escritas no sorriso das estrelas,
as tão famosas estórias,
contadas no silêncio da noite
ao travesseiro das crianças.

Era uma vez
um Menino Pastor
que armado em gavião,
beliscou Menina Flor.
Ela, irada, em menos que nada,
assentou-lhe um bofetão,
o rapaz andou de lado,
tonto, caiu desamparado
e foi de cabeça ao chão.
Ela ria-se, gargalhava
e divertia-se
com toda aquela situação.
O rapaz irritado, levantou-se, 
arregaçou as mangas
e sem medir o tamanho daquele fado, 
lançou mãos ao trabalho.
E lá foi ela carregada 
ao ombro do “Burro de Carga” 
caminho fora que nem um fardo de palha.
Pontapeava, esbracejava e gritava.
Ele só dizia:
- Não te adianta de nada, minha cara, 
não tenho medo do mau feitio da tua saia.
Pelo caminho ela viu 
coelhos de patas para o ar
a pastarem na margem do rio, 
viu veados roedores, flores e borboletas 
de vários tamanhos, feitios e cores.
(Já alguém viu coelhos pastores e veados roedores? Não? Mas ela já!)
Mesmo virada do avesso,
estava encantada com a magia
que brotava daquela terra desconhecida,
pela qual se apaixonara,
e desejava que fosse sua.
- Que linda é a tua aldeia, diz-lhe ela.
- Fica então, aqui comigo, vá.
- Hoje não posso, tenho a casa cheia...
- E amanhã?
- Amanhã não sei, mas hoje tenho de ir...

O hoje já foi ontem
e o amanhã ainda não chegou,
mas o vento, de vez em quando é generoso
e devolve-lhes o cheiro
da terra molhada num ramo de oliveira, 
que de lá vem entrelaçado naquele beijo esperado 
à ombreira da namoradeira.

E como diziam as minhas filhas quando eram pequeninas;
“Vitória, Vitória, acabou-se a história”;
de um Amor sem fim, de um Amor sem fundo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Impontual(idades) do Amor

Imagem tirada daqui

“o amor é uma invenção esgotante”, passo a citar uma citação extraída do “Fim de Setembro” do Impontual.
Se me permite(s), sem qualquer intenção ou presunção, complemento e acrescento, que tal invenção é um fenómeno resiliente que nunca se esgota.
As pessoas vão tropeçando por aí, umas nas outras, mas há aquelas que nos embatem de forma especial. Sem que dê-mos conta, entram sem permissão e instalam-se de mansinho dentro do nosso ninho afectivo, e o mais engraçado é que não há nada nem ninguém que quebre essa corrente transparente; nem o silêncio prolongado no tempo, nem a extrema e franca distância, tão pouco a crispação de personalidade entre feitios aguçados. O amor afigura-se como um menino traquina, mais teimoso que a própria teimosia.
Apesar de todos os pesares, a espera, a esperança e a espectativa continuam a ser os fios condutores que alimentam esse fenómeno crónico. E, apesar de o Amor ser “uma invenção esgotante” que nunca se esgota, é dele que brota a força para se continuar a caminhada, com a vantagem de que o numero primo nunca vai sozinho, segue sempre de coração embalado e aquecido numa nuvem de algodão doce com sabor a baunilha.